Presidente da CPMI do 8/1 tenta manobra para agradar oposição, mas é derrotado

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Era para ser uma sessão destinada somente à oitiva de um empresário que teria financiado atos golpistas do dia 8 de janeiro. No entanto, sob a alegação de que estava “protegendo a minoria”, o presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), deputado Arthur Maia (UB-BA), tentou uma manobra para atender pedidos da oposição para convocar o coronel Sandro Augusto Salles Queiroz, comandante do Batalhão de Pronto Emprego da Força Nacional no dia 8 de janeiro, quando ocorreram os ataques aos prédios públicos, em Brasília.
Maia, que é aliado de primeira hora do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), demonstrou impaciência com parlamentares governistas e disposição em contribuir com a estratégia da oposição, que tenta emplacar a versão de que houve omissão por parte da segurança do Planalto e do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em relação aos alertas emitidos sobre a possibilidade de depredação.
O requerimento de convocação do coronel já havia sido apresentado pelo deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Abin no governo de Bolsonaro. O pedido foi colocado em votação extra-pauta, sem acordo por parte dos governistas, o que é impedido pelo Regimento Interno.
Mas, nesta terça-feira, a manobra de Maia não deu certo. Os governistas conseguiram derrotar os bolsonaristas na votação por 14 a 10.
A irritação de Maia com os governistas ocorre em um contexto inusitado. Ela vem depois de uma atrapalhada tentativa de acordo costurada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso, o ministro da Defesa, José Múcio, e os comandantes do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, e o da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, para tentar poupar militares, principalmente do Exército, na CPMI.
Randolfe teria concordado na reunião em trabalhar para não chamar o general Braga Netto, que era ministro de Bolsonaro e foi seu candidato a vice no ano passado. O senador, no entanto, teria admitido que era inevitável a convocação do ex-comandante da Marinha, o almirante de Esquadra Almir Garnier Santos, suspeito de ser o único dos comandantes que teria concordado com Bolsonaro em sua intenção de dar um golpe de Estado e impedir Lula de governar.
Além disso, a irritação de Maia se deve à indefinição na distribuição de cargos no comando da Caixa Econômica Federal, prometida a Lira e seus aliados. Lula não ainda não atendeu ao pedido de que as 15 presidências da instituição financeira também sejam entregues a Lira.
Em contraposição à tentativa de chamar o chefe do batalhão, governistas tentaram nesta terça forçar a convocação de Garnier Santos. Maia, no entanto, não atendeu aos pedidos. A oposição tentará, amanhã, em reunião na parte da manhã, construir um acordo para que, pelo menos Braga Netto tenha que falar, antes que os trabalhos se encerrem.
O tempo, no entanto, é exíguo. O depoimento de Braga Netto que já havia sofrido adiamento e estava marcado para ocorrer na próxima quinta-feira foi substituído, por ordem de Maia, pela oitiva do policial militar do Distrito Federal Beroaldo José de Freitas Júnior. Para os governistas, o depoimento não interessa por representar “mais do mesmo” na tarefa de apontar responsáveis.
O governo tem maioria na CPMI, mas no início da sessão desta terça, quando Maia anunciou que colocaria o requerimento em votação, muitos aliados do Planalto não estavam no plenário e tiveram de ser chamados às pressas para registrarem seus votos contrários à convocação.
Maia tem adotado uma prática desde o início dos trabalhos: não divulgar a pauta de votação de requerimentos com 48 horas de antecedência e levar para a votação somente o que for objeto de acordo entre oposição e governistas. Com isso, muitos pedidos do governo não foram votados e, no caso de Braga Netto, houve a aprovação, mas a audiência não ocorreu. Nesta terça, o presidente da CPMI contrariou a própria regra, levando a convocação do comandante ao voto.
O desejo dos oposicionistas é atribuir a culpa dos ataques principalmente ao general Gonçalves Dias, que chefiava do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) na época, e ao ministro Flávio Dino. Essa deve ser a tônica do relatório em separado que a oposição deverá apresentar no dia 17 de outubro.

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