O 7 de Setembro e os desfiles de poder

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No primeiro 7 de Setembro de seu atual governo, Lula tenta limpar a imagem do dia festivo, que foi sequestrado pela extrema direita nos últimos quatro anos. O cientista político Christian Lynch compara os desfiles que acontecem por todo o país com os de Paris, com tanques e militares desfilando pelas ruas. No MesaDoMeio, ele explica que uma das ideias do evento é demonstrar a força do Estado. Apesar da presença das Forças Armadas, a diferença em relação ao Brasil é que, na França, as armas “estão relacionadas com a sustentação da República”. “A República se materializa no Estado, mas ela tem povo dentro, tem conteúdo. Aqui, no Brasil, tem o Estado porque supostamente o povo não presta e por isso as Forças Armadas têm de representar o Estado porque não tem uma nação que preste.”

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A colunista Mariliz Pereira Jorge acredita que o governo Lula trabalhou para desvincular a imagem que se teve do Dia da Independência nos últimos anos, sob Bolsonaro, mas não viu mudanças. Ela se diz frustrada por perceber que os símbolos nacionais sequestrados pelo bolsonarismo não voltaram às mãos do povo. “A gente vai ter um 7 de Setembro muito parecido com os últimos anos, as últimas décadas, sem nada de diferente e muita gente ignorando a data.”

Enquanto o feriado não chega, a repórter especial Luciana Lima conta que há um clima de tensão em Brasília pela minirreforma ministerial de Lula, que precisa acomodar os partidos do Centrão. PP e Republicanos têm de entrar no governo para ampliar sua base na Câmara dos Deputados. O problema é que, nessa disputa, há uma briga com o PSB, que não quer perder seu Ministério de Portos e Aeroportos para o Republicanos. Um almoço com lideranças do PSB e Lula acabou se tornando indigesto devido à proposta do petista. Ele ofereceu ao PSB a nova pasta da Micro e Pequena Empresa. “Só que os socialistas argumentam que essa pasta já está com eles dentro do guarda-chuva do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, comandada hoje por Geraldo Alckmin.”

Mariliz não se conforma com a barganha entre políticos para conseguir cargos, em detrimento da qualidade da política desenvolvida pelos poderes em favor da população. “A gente normalizou isso, esse toma-lá-dá-cá e essas chantagens que acabam acontecendo dos dois lados para o presidente poder governar, e o Congresso aprovar projetos de lei. Acho desanimador”, desabafa.

Mas, no atual sistema eleitoral brasileiro, com 30 partidos políticos registrados no TSE, é inevitável compartilhar poder para que o presidente possa governar com apoio do Congresso. Para o editor-chefe do Meio, Pedro Doria, parte da solução estaria em distribuir de maneira mais automatizada os recursos da União para os municípios, sem ter de passar pelos parlamentares. “Porque, no fim das contas, são deputados brigando para levar grana aos municípios deles.” Uma das maneiras de fazer isso seria mudar a forma de arrecadar tributos, tirando a cobrança de impostos do nível federal e levando para o municipal ou estadual. Ou mesmo com regras claras de distribuição dos valores, sem depender de um político destinar os aportes sem critérios bem definidos.

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