A lenda da honradez militar
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O Dia do Folclore, comemorado nesta terça-feira, dia 22, é momento de relembrar as lendas e os mitos que fazem parte da cultura brasileira. Mas a política nacional também tem suas próprias fantasias, como a da completa honradez de militares incorruptíveis. O cientista político Christian Lynch explica que essa lenda é contada pelos próprios militares desde o final da Monarquia. Como as famílias mais ricas não tinham membros das Forças Armadas, o Exército começou a se ressentir com as elites civis. “Começou aí, a ideia de que os políticos são corruptos, partidários, que só pensam neles, não no bem da pátria.”
No programa #MesaDoMeio, Lynch conta que, ao vencer a Guerra do Paraguai, os militares argumentavam que eram eles que morriam pelo país e por isso eram os mais honrados da nação. “Aí, começa essa história da honra do Exército.”
Por ser um dos maiores países do mundo em extensão, Lynch avalia que é essencial para o Brasil ter Forças Armadas bem equipadas. O problema é o corporativismo e os privilégios dos militares. “O Exército virou uma caixa-preta, ele sempre tentou ficar insulado da política”, afirma. “A visão de mundo deles vem das histórias que eles próprios contam, da própria educação, é uma visão de mundo muito conservadora, muito hierarquizada, muito corporativista.” Ele explica que essa visão acaba se tornando conspiratória, porque o país estaria sempre sob algum tipo de ataque, o que justificaria sua existência por serem os salvadores da pátria.
De Brasília, a repórter especial Luciana Lima conta que a relatora da CPMI dos atos golpistas, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), e o deputado Marco Feliciano (PL-SP) trocaram ofensas, após ela tentar colocar na pauta da sessão a quebra de sigilo da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP). A briga foi tão intensa que outros parlamentares tiveram de segurar o pastor para evitar agressões físicas, fazendo com que o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), cancelasse a sessão sem definir a pauta. “Congressistas chegaram a acusar Feliciano de ser machista e que não foi a primeira vez que ele adota esse tipo de comportamento contra Eliziane.”
Para a colunista do Meio Mariliz Pereira Jorge, é desnecessária a discussão sobre machismo contra Feliciano, por ele ter “machismo no DNA”. Ela reclama do comportamento do deputado com outras congressistas e jornalistas mulheres. “Eu já fui alvo dele nas redes sociais e ele não é nem um pouco democrata, nem gentil.”
Mariliz chegou a pensar que, após as eleições, haveria mais civilização no Parlamento, “mas é só acompanhar qualquer capítulo das CPIs em andamento para ver como as pessoas se tratam lá e continua a mesma coisa”.
A jornalista também lembra que os ataques contra as mulheres ocorrem mesmo em momentos de celebração, como o beijo forçado do presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, na jogadora da seleção Jenni Hermoso, durante a entrega de medalhas para as campeãs da Copa do Mundo. “O que chama a atenção é uma cena clara de importunação sexual, mas vi muita gente concordando que não tinha nada demais, que era um momento de comemoração”, desabafa.