Argentina dá adeus ao bipartidarismo

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Há peronismo, ainda que muito diverso, e antiperonismo ou radicais na Argentina. Com o surgimento de Javier Milei representando uma ultradireita, o país conta agora com uma terceira força. “Acabou o bipartidismo na Argentina, por ora”, afirma a jornalista Sylvia Colombo, em entrevista à editora-executiva Flávia Tavares no programa Conversas com o Meio. Ela explica, ainda, que o país tem uma forma própria de rotular seus modelos partidários, sendo difícil classificar Milei no espectro político, por conta de sua trajetória.

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Por isso, Colombo defende que classificá-lo como ultradireitista ou de extrema direita é insuficiente, apesar de o candidato à presidência argentina se autodefinir como ultralibertário. “Milei é um provocador. Defende uma agenda ultraliberal, porém também apoia pautas que tem a ver com a extrema direita contemporânea, como defesa do uso de armas, enfrentamento mais frontal com o crime organizado, daqueles que acham que os direitos humanos já têm direitos demais, e está contra a pauta de gênero, querendo eliminar o Ministério da Mulher e da Diversidade.”

A diferença de Bolsonaro para Milei é que o brasileiro se guia muito pela questão religiosa na pauta de costumes. “Ele tem muitos religiosos entre seus seguidores e aconselhadores, a defesa da família e da pátria tem um fundo religioso”, esclarece. No caso do argentino, a autodefinição de anarcocapitalista liberal explica melhor sua visão, sem o Estado interferindo nas decisões pessoais dos cidadãos. “Quando se fala de matrimônio igualitário, ele afirma não ver nenhum problema com isso, e que sequer isso é um problema do Estado, porque isso deveria ser como qualquer contrato.” Sua visão contrária ao aborto tem a ver com sua opinião, de que o feto é um indivíduo livre, não podendo ter seu direito à vida violado. “Não é pela pauta moral, nem religiosa, mas pela pauta ultralibertária.”

Para Colombo, essa também é outra diferença com Bolsonaro. Milei não conta com um grande apoio do empresariado ou do agronegócio. O que será um problema caso chegue à Casa Rosada, por ser um líder isolado, sem apoio no Congresso, e não ter capacidade de transferir votos para eleger muitos deputados. Seu partido, mesmo que não vença a eleição presidencial, tende a aumentar o número de cadeiras conquistadas no Parlamento, que conta atualmente com três deputados. “É possível que cresça para 16”, projeta.

Milei já era conhecido no país como um economista pop, que gosta de aparecer em programas televisivos, atuando de maneira esdrúxula. A projeção política começou pouco antes das eleições legislativas de 2021, escutando as reclamações do eleitor nas ruas, já no período em que a Argentina enfrentava sua grave crise econômica. “Milei encontrou seu eleitorado justamente no público mais humilde, com menos educação, que não tem muita paciência para se informar ou ver debates, e acha muito mais fácil e apelativo um político que simplesmente dá palavras de ordem, como acabar com a casta política.”

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