A delicada situação de Mauro Cid perante o Exército

Receba as notícias mais importantes no seu e-mail

Assine agora. É grátis.

PUBLICIDADE

Preso desde maio no caso de falsificação de cartões de vacinação, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid ficou em silêncio durante seu depoimento à CPMI do 8 de Janeiro. O editor-chefe do Meio, Pedro Doria, avalia que a cabeça de Cid é um preço alto a se pagar pelo Exército, por ter como pai um general de quatro estrelas e ser um nome em ascensão ao comando das Armas. No programa #MesaDoMeio, ele explica que, na situação atual, o futuro do militar está condenado e ele não deve passar de general de uma estrela. “Agora que ele está preso, acabou a carreira dele”, aposta. Na avaliação de Doria, Cid cometeu crime de alta traição, o mais grave que um militar pode cometer. “Ele atentou contra a Constituição e, portanto, contra o Estado brasileiro.”

De Brasília, a repórter especial do Meio Luciana Lima conta que a CPMI aprovou a quebra do sigilo telemático de Cid para apurar os motivos que levaram o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro a limpar sua caixa de e-mails, antes de deixar o governo. A comissão também recebeu uma lista de visitas recebidas por Cid na cadeia, que inclui pessoas ligadas a Bolsonaro, como o deputado federal Eduardo Pazuello e o atual advogado do ex-presidente Fabio Wajngarten. Ao todo, foram 73 visitantes, a maioria parentes.

No campo da extrema-direita, a reforma tributária foi motivo de turbulência entre os partidos ligados a Bolsonaro. Pedro Doria afirma que deputados do PL, eleitos em meio à onda bolsonarista, escolheu pegar o dinheiro de verbas parlamentares liberadas pelo governo Lula para passar a reforma tributária na Câmara, a votar com a ideologia bolsonarista. Ao fazer o cálculo do desgaste que teriam por votar com o governo, perceberam que não haveria um grande problema de imagem. “Eles conhecem suas bases eleitorais, sabem com quem estão mexendo. Então, esse tipo de risco é calculado”, avalia.

O cientista político Christian Lynch diz que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, considera o bolsonarismo um “saco de votos”. Por ser o responsável pela eleição de parlamentares do partido, o ex-presidente Bolsonaro segue parasitando a legenda, enquanto ataca o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoiou a reforma. Para Lynch, Valdemar vê o bolsonarismo apenas como uma máquina de ganhar dinheiro, que pode ser descartada futuramente. “Ele vê os Bolsonaro como atração de circo, que ele pode ganhar dinheiro rodando uma manivela, até acabar.”

Em partidos fisiológicos, é comum haver votações de acordo com o interesse dos parlamentares. A jornalista Mariliz Pereira Jorge compara a base bolsonarista no Congresso a peixes que se alimentam dos restos deixados por baleias e tubarões. Para ela, 2024 será um ano de teste para saber como será a influência de Bolsonaro pelo país. “Não acho que ele vai ter grandes momentos o tempo todo para mostrar algum tipo de liderança [no Congresso]”, avalia. Ela aposta que o ex-presidente vai se apegar a temas polêmicos, como o aborto, para agitar sua base.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.