Jornadas de Junho trouxeram avanços para debate sobre transporte, mas não resolveram a questão

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A recusa às formas mais tradicionais de se fazer política, a presença de uma camada mais jovem que aspirava melhores empregos e a possibilidade de organização pelas redes sociais produziram o cenário perfeito para eclodir uma onda de protestos que mudou a história do país em junho de 2013. Em entrevista à jornalista Andrea Freitas no programa Conversas com o Meio, o professor de urbanismo da UFMG Roberto Andrés avalia que, apesar de os protestos terem gerado algumas transformações positivas na mobilidade urbana, como a inclusão de uma Emenda Constitucional tornando o transporte público como um direito social e a redução da passagem em mais de cem cidades brasileiras, o problema da precarização do serviço continuou.

Mas os grandes ciclos de protestos trazem mudanças de mentalidade, permitindo que ideias, tidas antes como utópicas, passem a habitar pelos espaços de debates, abrindo espaço para avanços sociais. Após as Jornadas de Junho, a ideia de transporte público gratuito deixou de ser realidade para mais de dez cidades antes de 2013 para ser implementada em mais de 70 municípios atualmente.

Roberto Andrés conta que a frase “não é só por 20 centavos” já soou ao longo da história do Brasil de outras maneiras, com revoltas sobre más condições do transporte público remetendo ao período imperial. Ele conta que esses momentos de rebelião social sempre foram vistos de maneira pejorativa pelas elites, que chamava de “arruaceiros” e “vândalos” aqueles que protestavam. Outros atos também ocorreram ao longo do século 20, mas nunca levados a sério pela classe política, que não resolveu o problema.

O caldeirão continuou em sua fervura já neste século, com movimentos surgindo em diferentes estados, enquanto a população via as políticas públicas incentivando a compra de automóveis, ao passo que o trânsito piorava e a qualidade do transporte público não só de deteriorava como a passagem também aumentava acima da inflação. “Havia cada vez mais pessoas que se importavam com isso, que passavam a considerar que era uma questão importante”, pontua.

Para o professor da UFMG, uma maneira de rever o descaso sobre o transporte seria a criação de um pacto federativo, que permita aos municípios o desenvolvimento de um plano sustentável de mobilidade, podendo caber no orçamento municipal enquanto atende às necessidades dos cidadãos. “É difícil imaginar uma melhoria infraestrutural das cidades brasileiras sem uma atuação do Ministério das Cidades, no sentido de induzir, financiar, subsidiar e estruturar proposições que tragam, de fato, melhorias para a maioria.”

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