Crise dos bancos americanos pode afetar a política de juros no Brasil

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A falência do Silicon Valley Bank, da Califórnia, não põe em risco o sistema financeiro americano, mas pode afetar o mercado brasileiro de maneira positiva. Para o economista e professor Felipe Salto, com a crise bancária nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) tende interromper o ciclo de alta nos juros. Isso pode facilitar a queda da taxa básica de juros por aqui. Em entrevista aos jornalistas Pedro Doria e Andrea Freitas, no programa Conversas com o Meio, ele explica como a taxa de juros externa afeta a decisão do Banco Central brasileiro.

“Quando temos um sinal claro de que os juros externos não vão aumentar, a nossa taxa de juros interna fica mais atrativa para os capitais que circulam no mundo. Quando esses capitais vêm para cá, há uma valorização do real, ajudando a inflação e facilitando a vida da autoridade monetária para promover a redução da taxa de juros.”

Após a pandemia, houve uma crise de oferta produtiva no mundo, o que gerou o aumento da inflação globalmente. O economista ressalta que o Fed tem totais condições de manter a inflação americana controlada, mas precisa ter cuidado com os ciclos de aperto monetário diante de uma crise provocada pela quebra de mais bancos, por conta do aumento do risco e do custo dessas instituições. Ele aposta em uma postergação na decisão de aumentar os juros nos Estados Unidos no curto prazo, o que seria positivo para o Brasil, por deixar as taxas nacionais mais atraentes para o investidor estrangeiro.

Salto afirma que a redução da Selic pelo BC depende também de o governo apresentar um arcabouço fiscal que seja capaz de convencer o mercado e toda a sociedade de que é capaz de ser responsável com as contas públicas. Ele avalia que “a regra fiscal não pode amarrar demais as mãos do governo”, que precisa gastar com serviços essenciais, como saúde e educação, mas os investimentos em políticas públicas devem ser feitos de maneira economicamente sustentável. “O que as pessoas querem saber é quanto o governo está disposto a controlar o ímpeto pelo aumento de gastos, sem deixar de financiar as políticas públicas, e como ele vai fazer isso.”

Mesmo sendo um tema muito espinhoso, outra medida importante que precisa estar na pauta é a reforma tributária. Como o Brasil é tem uma tributação altamente complexa, envolvendo a União, estados e municípios, um bom ponto de partida seria focar no ICMS.

Voltando ao tema dos juros, o economista considera que o BC acertou ao aumentar as taxas de juros e que Roberto Campos Neto tem feito um bom trabalho como presidente da autoridade monetária. “A inflação acabou ficando um pouco mais alta durante um tempo, o que ajudou no curto prazo a elevar as receitas e o PIB nominal, e colaborou para a redução da dívida/PIB, mas quando ele [Campos Neto] percebeu isso, correu atrás do prejuízo e aumentou a taxa de juros”, avalia. De acordo com as projeções de Salto, a inflação neste ano deve fechar em 4% ou 4,2%.

Salto entende que os conflitos internos entre os ministros de Lula sobre os rumos da economia são normais e que o presidente poderá resolver as divergências quando necessário. Fazem parte da política. Mesmo que Lula faça algumas declarações que alarmem o mercado, o economista vê o movimento com naturalidade, por ser uma forma de o governante avaliar suas ideias junto à sociedade. “Ele foi eleito, por isso precisa falar para o eleitorado dele”, afirma, acrescentando que o ministro Fernando Haddad é o mais empoderado da ala econômica, com Simone Tebet colaborando ativamente nas discussões.

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