Declarações xenófobas podem tumultuar relação entre Flamengo e Banco de Brasília
“Primeira-dama” e diretora de Responsabilidade Social do clube, Angela Machado é investigada por intolerância; no DF, BRB tem de dar explicações
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) investiga as declarações da diretora de Responsabilidade Social do Clube de Regatas do Flamengo, Angela Rollemberg Santana Landim Machado, após as eleições que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o novo presidente do país. Patrocinado pelo Banco de Brasília (BRB), o clube tem o contrato de patrocínio-máster ameaçado por ataques injuriosos a nordestinos.
No Instagram, Angela declarou que os eleitores de Jair Bolsonaro (PL) venceram “onde se trabalha”, enquanto Lula teve mais votos “onde se passa férias”, numa alusão ao Nordeste. Não satisfeita, Machado ainda conclamou seus seguidores à labuta, pois, segundo ela, “se o gado morrer, o carrapato passa fome”. A publicação pegou mal entre torcedores e clubes da região, como CRB e CSA, de Alagoas, e do maranhense Sampaio Corrêa, que imediatamente repudiaram as palavras da diretora flamenguista.
Na mesma quinta-feira (3/11) em que foi denunciada na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), Angela teve outro revés: o MPDFT questionou a presidência do BRB – ocupada Paulo Henrique Bezerra Rodrigues Costa, que, por questões internas, também exerce a Controladoria do banco – sobre um “eventual descumprimento contratual por parte do Clube de Regatas do Flamengo em manifestação publicada pela Diretora de Responsabilidade Social”.
Isto porque, em uma das cláusulas do contrato entre Flamengo e BRB, é terminantemente proibido “o apoio de práticas de discriminação negativa e/ou injuriosa, relacionada à raça, cor, sexo, reiligão, opção sexual, origem ou qualquer outra característica pessoal” por parte dos profissionais da agremiação. Desta forma, a Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep), por meio de Eduardo Gazzinelli Veloso, encaminhou os questionamentos ao banco, que tem até 23 de novembro para responder ao ofício.
“Direito de se posicionar”
O ofício enviado ao BRB é um desdobramento do Procedimento Administrativo nº 08190.052898/20-77, instaurado ainda em 2020, que apura os termos em que a parceria foi firmada – sobretudo no que tange ao Governo do Distrito Federal (GDF), acionista majoritário do banco e tocado pelo flamenguista Ibaneis Rocha (MDB). Até o momento, o Flamengo recebeu cerca de R$ 32 milhões anuais para estampar a logomarca na camisa tricampeã da Libertadores em 2022. Firmado em 2020, o contrato foi renovado em junho deste ano, sob críticas de conselheiros do clube.
A reportagem tentou contato com Rodolfo Landim, presidente do clube, bem como com três profissionais identificados como assessores de imprensa. Em nenhum dos casos houve resposta. Em vídeo, Landim classificou a fala como “direito de se posicionar”. O Governo do Distrito Federal (GDF) e o BRB não se manifestaram até o fechamento deste texto. O espaço segue aberto.