Falta de maioria no Congresso pode ser positiva para o governo Lula, avalia especialista

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Apesar de o resultado das eleições revelarem um Congresso Nacional mais conservador para os próximos quatro anos, não quer dizer que esse seja um empecilho insuperável para um eventual governo Lula em 2023. Essa é a avaliação do cientista político Carlos Melo, do Insper, que vê nessa conjuntura uma presidência mais ao centro do que o petista faria caso houvesse uma grande vitória progressista no Legislativo. “Se nós tivéssemos uma vitória avassaladora da esquerda, seria muito mais fácil para Lula governar e talvez aí morasse o perigo, de ter um governo pouco previdente e arrogante.” Em entrevista ao programa Conversas com o Meio, ele considera que Lula precisará separar o que é o Centrão do que é a bancada bolsonarista e buscar uma gestão mais sofisticada, além de precisar do apoio da sociedade. Para Melo, o momento não será de um mandato de esquerda, mas de uma gestão centrista, que traga uma transição para um comando mais progressista futuramente. “Não é possível sair do governo Bolsonaro e voltar para o governo Dilma. Sem uma transição, isso só pode dar em desastre.”

Caso Jair Bolsonaro (PL) seja reeleito, o cientista político prevê um agravamento da destruição institucional causada pelo presidente, que atuará no sentido de mudar a Constituição com o apoio desse mesmo grupo que assume as cadeiras parlamentares em 2023, interferindo na dinâmica do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo frequente de agressões por Bolsonaro e seus seguidores. A agenda de costumes também deve ganhar tração, com deputados e senadores ameaçando os direitos das minorias. Melo ainda chama a atenção para um agravamento dos problemas sociais e econômicos dos quais Bolsonaro não terá habilidade para resolver.

Ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva siga liderando as pesquisas de intenção de voto, Carlos Melo acredita que o resultado ainda não está definido. Mesmo que nunca nas eleições presidenciais o segundo colocado do primeiro turno tenha conseguido virar o placar no segundo turno, ainda não se sabe se essa dinâmica é própria da disputa ou se ter a estrutura de governo a favor do candidato à reeleição faz a diferença. Melo ressalta que “Bolsonaro não tem o menor pudor de usar a máquina pública” para buscar uma virada histórica no segundo turno contra Lula. “Eu desconfio que o crime eleitoral no Brasil foi abolido”, comenta, ao questionar se crimes eleitorais, como disparos em massa por aplicativos de mensagem presentes no pleito de 2018, cessaram neste ano.

Para entender os movimentos que deram impulso à extrema direita da atualidade, é preciso voltar em 2008, quando a crise financeira internacional, causada pela especulação imobiliária nos Estados Unidos, leva à formação de grupos extremistas, que segundo Carlos Melo, foi mal interpretada como revoltas populares progressistas, o que nem sempre ocorreu. “A Primavera Árabe, por exemplo, deu no Estado Islâmico”, ressalta. O cientista político também recorda que os movimentos brasileiros, que se iniciaram com reivindicações legítimas, como saúde de qualidade e busca por um Estado mais eficiente, também reacendeu os ideais integralistas que vemos hoje no bolsonarismo.

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