Lula quer falar com evangélicos, mas “fora das igrejas”

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De Brasília

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Um aceno aos “desigrejados”. Esse foi um dos argumentos da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) na reunião que teve na quinta-feira (6/10) com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em São Paulo. Evangélica, filha de um pastor da Assembleia de Deus, ela levou ao petista o apoio de alguns pastores e ainda é parte da negociação com a campanha de Lula sobre a possibilidade de se divulgar uma carta na qual o candidato se compromete com o segmento religioso.

Duas fontes da campanha de Lula disseram ao Meio nesta sexta-feira (7/10) que a divulgação de uma carta aos evangélicos ainda não está definida. Isso porque Lula resiste em publicar um documento apenas para um segmento religioso e não contemplar outras crenças. Além disso, Lula quer uma campanha “longe dos templos”. Em contrapartida, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita Damares Alves (PL-DF) foram escaladas nessa fase da campanha para percorrer o país, em igrejas e encontros com mulheres evangélicas, para robustecer o voto religioso em Bolsonaro.

A preocupação de Eliziane vem do contato com os religiosos. Ela disse ter ouvido argumentações de muitas pessoas que têm deixado de frequentar os templos diante da ostensiva e sistemática pregação de pastores em favor do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Em vez de enfrentar os pastores, as pessoas acabam por não frequentarem mais os cultos.

“O que está atrapalhando é o fanatismo”, disse ao Meio o pastor Hermes Gonçalves, que já foi da Igreja Universal do Reino de Deus e participou da reunião. “O que tem ocorrido nas igrejas é mais uma intervenção política do que uma fala com o objetivo de buscar a Deus, que é o que os fiéis querem ao entrar nas igrejas. Há uma manipulação da fé”, destacou.

Para falar com os evangélicos fora das igrejas, a campanha de Lula está preparando um grande encontro em São Paulo com religiosos, nos moldes do que foi feito em São Gonçalo (RJ) ainda no primeiro turno. Para esse evento, cantores de música gospel estão sendo contatados e pastores apoiadores de Lula estão se articulando.

Lula avisou que não irá a Aparecida no dia 12, dia da Padroeira do Brasil, nem ao Círio de Nazaré, em Belém, neste fim de semana. A presença no Círio será de Rosângela da Silva, a Janja, mulher de Lula, que irá à festa para pagar uma promessa. A graça: Lula não ter sido alvo de violência durante o 1º turno.
Bolsonaro, por sua vez, vai às duas festas religiosas e tenta negociar com a igreja católica um evento no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

Aborto

Mesmo se não houver a carta, Lula dará uma atenção forte para responder acusações lançadas pela campanha de Bolsonaro por meio de peças publicitárias, eventos e entrevistas. Um dos pontos a serem enfatizados diz respeito ao aborto. A senadora Eliziane propôs que, caso o presidente seja eleito, ele se comprometa em não tomar iniciativa de enviar ao Congresso nenhuma proposta de modificação da atual legislação.

Lula já concordou com esse ponto. Após o encontro, gravou um vídeo se colocando pessoalmente contra o aborto, contando a sua vida com as três esposas, mas tratando o tema como assunto de saúde pública. Na reunião, Lula já se comprometeu com a ideia de que não é papel do presidente da República propor leis referentes a esse assunto. Ele pretende reforçar esses pontos nas entrevistas daqui para frente.

Durante o governo do petista, a Secretaria Especial da Mulher chegou a formar uma comissão tripartite, envolvendo o Executivo, o Legislativo e a sociedade civil organizada, com assentos para as igrejas, com o objetivo de elaborar uma nova legislação sobre o aborto, proposta que, depois, não prosperou no Senado e na Câmara.

Nas propostas apresentadas pela senadora, não há uma menção direta a direitos de homossexuais ou o constante combate às “questões de gênero”, erroneamente atacada por bolsonaristas como “ideologia de gênero”. Existe, no entanto, a ideia de não se trate a chamada “pauta de costumes” por meio de medidas provisórias ou decretos, e que qualquer decisão a respeito desses temas seja exclusivamente do Congresso.

Reação

O tema da religião é bastante sensível e a campanha se mobilizou para negar a relação do presidente com a maçonaria, entidade não aceita por fieis, após a divulgação nas redes sociais de um discurso de Bolsonaro em uma loja maçônica. Nesta sexta, Michelle divulgou um vídeo no qual o atual grão mestre da loja maçônica do Rio de Janeiro, José Ricardo, atestava que Bolsonaro não faz parte da entidade.

Bolsonaro, por sua vez, terminou a semana demonstrando agressividade. Fontes ligadas ao Planalto disseram que três pontos abalaram a campanha. O vídeo do discurso na Maçonaria, a reclamação feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a rede de notícias falsas no Twitter, envolvendo filhos do presidente, a deputada Carla Zambelli e o deputado eleito Nikolas Ferreira, além do vídeo, divulgado pela campanha de Lula, no qual, Bolsonaro, em entrevista ao jornal New York Times, diz que comeria um índio yanomami que estava sendo cozido.

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