Lula precisará deixar mágoas de lado para lidar com MDB no governo, diz cientista político

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Caso seja eleito presidente da República no segundo turno, marcado para o próximo dia 30, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisará pensar como Tancredo Neves, em uma reconstrução democrática, deixar de lado as mágoas trazidas pelo papel de Michel Temer no impeachment de Dilma Rousseff e lidar com o MDB, partido importante no Congresso sem o qual nenhum vencedor da disputa presidencial poderá abrir mão. Para o professor de Ciência Política da FGV Fernando Abrucio, “o cenário agora é de uma reconstrução democrática sem ter tido uma ditadura”. Em entrevista a Pedro Doria no programa Conversas com o Meio, ele lembra que Lula começou a fazer esse movimento ao chamar Geraldo Alckmin como vice em sua chapa, e ao se reunir com o economista Henrique Meirelles.

Com os novos ingressantes no Congresso em 2023 e uma virtual reeleição de Jair Bolsonaro (PL), o cientista político avalia o risco de o Brasil se tornar uma Venezuela ou uma Hungria, com a tentativa de o presidente aumentar seu poder, criando uma nova Constituição para reduzir direitos, a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a nomeação de outros nomes simpáticos a seu regime para a Corte. Mas, caso Lula vença, iremos para um governo de transição para que em 2026 possa ter um “sistema político mais normalizado frente à democracia”. Ele ressalta que uma possível gestão petista a partir do próximo ano precisará ser “centrista radical”, trazendo pessoas de centro e centro direita para o governo e uma “agenda para evitar que o bolsonarismo reaja”. Para Abrucio, a missão de evitar que o bolsonarismo recupere a hegemonia conservadora deveria ser dos lulistas e dos centristas.

Mas para isso Lula terá de vencer uma dura campanha contra Bolsonaro, que utilizará a máquina pública para reverter a desvantagem do primeiro turno. O professor da FGV criticou o mercado financeiro, que não fez alarde sobre as manobras fiscais eleitoreiras de Bolsonaro para ganhar apoio popular das classes mais pobres. Para Abrucio, “o que ele [Bolsonaro] fez [com o teto de gastos] faria a Dilma estar no jardim da infância na quebra de regras fiscais”, em referência ao motivo do impeachment da ex-presidente.

Fernando Abrucio ainda dividiu o conservadorismo brasileiro atual entre aquele que cresceu mais que o bolsonarismo, que inclui o crescimento da população evangélica, de pequenos e médios comerciantes e de pessoas que querem a redução do tamanho do Estado, ao bolsonarismo, que é uma parte deste movimento, mas que acabou controlando o todo conservador. Ele ressalta que o problema envolvendo o jogo democrático no Brasil não é a onda conservadora em si, mas o movimento reacionário que põe em xeque as instituições. O cientista político lembra que “[quando] os conservadores ganham [eleições] na Inglaterra, ninguém diz que a democracia está em jogo”. O maior problema seria a Constituição de 1988 ser colocada em risco porque “se o seu espírito [constitucional] for atingido, de fato morre a Nova República [marco político iniciado após o fim da ditadura militar], mas morre, acima de tudo, o projeto da redemocratização do país”.

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