Para derrotar Bolsonaro, Marina e Lula fazem “reconciliação política”

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De Brasília

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O temor de uma reação de Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas de intenção de voto provocou uma reconciliação das mais importantes no campo político: a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) anunciou seu apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao conceder entrevista coletiva ao lado do petista em São Paulo, Marina disse que esse “reencontro político” significa um momento dos mais importantes para as trajetórias das duas lideranças.

O reencontro de Marina com Lula teve sabor de reconciliação de antigos amigos. “Nós estamos vivendo aqui um reencontro político e programático. Porque do ponto de vista das nossas relações pessoais, tanto eu quanto o presidente Lula nunca deixamos de estar próximos e de nos conversar, inclusive em momentos dolorosos de nossas vidas”. Marina se referiu ao momento em que visitou o ex-presidente no hospital quando ele se tratava de um câncer na garganta e na ocasião da morte de sua mulher, Dona Marisa.

Marina declarou que o reencontro se dá pela gravidade da ameaça bolsonarista e no nível programático — condição que ela já havia expressado ser fundamental em maio, em entrevista ao Meio. “Digo isso para dirimir qualquer natureza de afastamento em termos pessoais. Nosso reencontro programático se dá diante de um quadro grave da história política, econômica, social e ambiental do nosso país. Em que nós temos uma ameaça que eu considero a ameaça das ameaças. Ameaça a nossa democracia”, disse.

Evangélicos

Além da questão ambiental, Marina representa uma ponte importante de Lula com evangélicos. Ela própria é evangélica, mas foi enfática em fazer a defesa da laicidade do Estado, dizendo que nunca fez de sua fé um meio político. Ela ainda se colocou como instrumento para o combate às notícias falsas sobre Lula destinadas a esse público.“Os católicos são cidadãos, os evangélicos, os espíritas, os judeus, as pessoas que são de religiões de matriz africana e os ateus também. Somos um Estado laico, e o legado do Estado laico é uma contribuição da Reforma Protestante. O povo cristão não pode se apartar desse legado, imaginando que teremos no Brasil um governo teocrático e que vamos impor qualquer tipo de fé a quem quer que seja”, destacou. “Quando fui questionada sobre essa história de que Lula fecharia igrejas, disse que era uma mentira, porque ele foi presidente por dois mandatos e nunca se teve nenhuma notícia de ‘sobrancelha fechada’ para nenhuma igreja. Muitos dos que hoje dizem essa mentira como estratégia eleitoral até iam ao gabinete do presidente fazer oração com ele”, disse Marina aos jornalistas.

Crítica ao PT, Marina chegou a cobrar que o partido fizesse uma autocrítica e se arrependesse dos erros cometidos. Agora, ela adaptou o discurso para se incluir no que poderia ter feito de diferente. “Durante esses 30 anos, eu sou parte da crise. Acabei de fazer não apenas como uma crítica, mas uma crítica que tem a ver com esse legado histórico de que, se tivéssemos conversado mais naquilo que é polêmico, talvez não tivesse acontecido isso”, disse a ex-ministra. “Na democracia é legítimo que os projetos se apresentem. E a polarização aconteceu. Era isso que eu falava de quebrar a polarização. Mas agora nós estamos diante de um quadro que é democracia ou aniquilação dos povos indígenas, é democracia ou aniquilação do povo preto, que está morrendo na nossa periferia. Democracia ou destruição da Amazônia”, disse.

A ex-ministra havia sinalizado apoio a Ciro Gomes (PDT), mas a contratação de João Santana como marqueteiro da campanha de Ciro a afastou do cearense. Santana esteve no centro da discórdia que levou Marina a deixar o governo e o PT, partido do qual era fundadora, em 2009. Marina, hoje candidata a deputada federal pela Rede, foi ministra do governo de Lula e deixou o poder e o partido após divergências com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Na época, a pasta de Dilma forçava a construção a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, enquanto a pasta ambiental não aceitava o não cumprimento de exigências socioambientais para o projeto.

De lá pra cá, Marina disputou eleição contra candidatos do PT, defendeu a “nova política”, foi partidária da Lava Jato e da chamada 3ª via, se abrigou no PSB, foi candidata a vice de Eduardo Campos na corrida presidencial de 2014. Com a morte de Campos, ela encampou a candidatura. Em 2013, Marina fundou a Rede Sustentabilidade.

Lula se mostrou emocionado e lembrou de quando conheceu a seringueira. “Conheci a Marina ainda menina no Acre. Você tinha, no máximo, vinte anos de idade e já querendo fazer a revolução, sabe?”, disse Lula pegando na mão da ex-ministra. “Eu vejo a Marina como uma pessoa que não mudou seus princípios, as suas convicções, o lado que ela está, a coisa que ela contempla. O Brasil que ela quer construir continua intacto na Marina que eu conheci”, disse Lula.

“Hoje eu encontro uma Marina muito mais calejada, muito mais experimentada e eu diria até mais ousada, porque o programa se ela apresenta é um programa ousado num país que precisa levar mais a sério a questão ambiental e a questão do pelo porque o mundo está exigindo o Brasil um comportamento civilizado, um comportamento que nos obriga a ter em conta que não haverá discussão sobre projeto de desenvolvimento que o governo a questão ambiental na mesa e no programa”, apontou Lula.

O articulador

O grande responsável pelo reencontro de Marina e Lula foi o ex-prefeito Fernando Haddad, candidato do PT ao governo de São Paulo. Amigo da ex-ministra, Haddad sonhava em tê-la como vice em sua chapa e chegou a conversar com ela sobre o assunto. Ela não aceitou e Haddad acabou acertando sua coligação com o PSB. Marina hoje auxilia Haddad em seu plano de governo e passará a ajudar no programa de Lula.

Uma das propostas já apresentadas pela ex-ministra refere-se à destinação de recursos do programa petista para financiamento de modelos de desenvolvimento verde para agricultura na Amazônia.“Estou ajudando o Haddad, e estou fazendo aqui agora, com esse diálogo com a campanha do presidente Lula.”

 

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